Já fui, mas não sou mais sócio do Santos há mais de uma
década. Nunca fui conselheiro do clube, participei de alguma chapa ou torci
para Ciclano ou Beltrano em disputas eleitorais pelo comando do alvinegro.
Jamais, sequer, votei. Talvez por normas da época em que era sócio ou por falta
de interesse.
Sou apenas um torcedor.
E como torcedor, me orgulho em dizer que estive com o time
em vários momentos. Bons e ruins. E posso garantir que minha geração chorou
muito mais do que sorriu. Tomei chuva, sol, passei frio, comi cachorro-quente
de origem duvidosa, escapei de apanhar de torcida rival, tive carro avariado,
comprei ingresso de cambista, dormi em ônibus, enfim, torci. Deus sabe o quanto
sofri vendo tantas enganações, inclusive com a camisa 10 mais famosa do mundo.
Acontece que, de uns dias para cá, tenho lido muitas
críticas ao atual presidente do Santos, Luís Álvaro, por conta do desmanche dos
times de futsal e futebol feminino e pelas polêmicas envolvendo o contrato com
o ídolo PH Ganso. E, mesmo não tendo votado nele e sequer conhecê-lo, acho que
trata-se de uma grande injustiça.
Posso garantir que, das dezenas de textos que li, nenhum foi
escrito por alguém que gera empregos ou que tenha a competência de saber o que
é administrar uma empresa, pagando salários, impostos e tendo que gerar lucro.
Sentar numa cadeira, atrás de um computador e escrever o que deve ser feito é, sem dúvida, muito mais fácil do
que por a mão na massa.
O futsal e o futebol feminino não são e jamais serão
prioridade em qualquer time grande de futebol. E isso é no mundo todo. Os times
de futebol profissional focam naquilo que realmente paga a conta e não nos
esportes amadores. O campeão mundial de vôlei em 2011 foi o Trentino BetClic,
da Itália. Não o Milan, nem a Juventus. O de futsal foi o Interviú Movistar, da
Espanha. Não foi o Real, nem o Barcelona. O Santos foi bicampeão feminino da
Libertadores jogando contra ninguém (que me desculpem as meninas que dão um
duro danado para profissionalizar o esporte). Mas esporte amador, no Brasil, é
isso. Estamos cansados de ver matéria de pais que vendem o carro para
patrocinar a ida de um filho a uma disputa internacional de modalidades que não
têm o mesmo brilho, apoio e dinheiro que o futebol. A diretoria foi apenas, profissional.
Agora me diga: se o Brasil inteiro bateu palmas pelo profissionalismo da
diretoria em manter o Neymar, porque não aceitar pacificamente uma atitude que
visa o bem do clube?
Por fim, em relação ao Ganso, acho que esse já passou da
conta faz tempo. É, sem dúvida um grande jogador, mas deixa muito a desejar no
quesito homem. A insistência em sair do clube me lembra, muito, a de outros “ídolos”,
como Giovani e Robinho. A torcida, cega de paixão, não consegue entender que o clube
jamais deve ser refém do atleta. As condições impostas por ele, o Ganso, suas
declarações e atitudes deixam claras sua memória curta em relação a tudo o que
o clube fez por sua formação. Aliás, ele e muitos outros atletas, como o
recente caso do garoto Chera que deixou o Santos recentemente pela porta de
trás porque, com menos de 18 anos, achava que R$ 30.000,00 por mês era pouco. Não vi nenhuma
intenção da atual diretoria em pagar salário de roupeiro para o Ganso. Muito
pelo contrário. Mas, alucinado para sair do clube, o atleta vem forçando a barra
diariamente, jogando a torcida, que analisa com o coração, contra a diretoria,
que analisa com o bolso.
O futsal veio e foi embora. O futebol feminino, também. Em
breve será o Ganso e, mesmo que a torcida não goste nem de ouvir, mais cedo ou
mais tarde, será com o Neymar, também. Todos são passageiros. Só o Santos é
eterno. Desculpem-me pelo desabafo. Insisto: sou apenas um torcedor.
Renê de Moura